segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O pior tchau é dado pelo outro.
E te fecham num mundo
Não pro lado deles, claro.
E falam de contar estrelas!

E porque se preocupar,
ou pensar em algo?
Todos sabemos
que o melhor já passou!

E pra que, pra que
se contentar, criar um basta
com algo que não é o melhor?
Que é só nostalgia

E eu já disse que odeio isso
Qualquer coisa precedida dele
Termo que me mata, me cansa.
Livrai-nos do pretérito

Amem

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ombro amigo

- Entrei no bar e pedi uma cerveja preta. Céus, mais que terrível é beber sozinho, isso sim deveria ser proibido por lei, aos impulsos idiotas, sanções morais nunca são suficientes.
- Cerveja preta?
- Éé, preta.
-Não entendo cerveja preta, lembra meu avô, ou aquele meu amigo que sempre inventa hábitos inusitados.
-Pois é, acho que era o meu caso nesse dia. Mas como eu ia dizendo, eu comecei a beber. O bar tinha uma TV, daquelas de tela plana – hoje nem tão – modernosas. Não sei se eram as conversas alheias, ou a péssima programação dominical...
- Então a tv era modernosa? Meu primo comprou uma dessas, sabe, é realmente incrível. Semana passada nós assistimos um daqueles documentários que mostram as profundezas do oceano, com todas aquelas criaturas luminosas em alta definição, foi ótimo.
- Saquei, mas como eu ia dizendo, o clima do bar foi me deixando muito puto! E logo de cara eu comecei a implicar com o garçom.
- Entendo. Você já tem uma tv dessas?
-Não. Pedi uma porção de bolinhos de bacalhau. Não sei porque, acho que é uma premissa sinestésica, mas dentro da minha cabeça frituras e melancolia tem tudo a ver!
- Pois você deveria comprar uma! A do meu primo é um máximo. Eu compraria se não estivesse desempregado. Ah, como está difícil a minha situação, né?. Ainda mais agora que a minha mulher me largou e eu não tenho mais acesso à grana que ela recebe por invalidez.
- É, isso é terrível. Enfim, o bolinho chegou, e você não acredita o que havia dentro: uma unha! Eu aceitaria qualquer parte do corpo com mais respeito que uma unha! Unha não é nem carne, não tem tecido nervoso, nem pele, não tem nada! É uma merda de um lixo animal, um errinho que ficou aí pela evolução.
- Que horror. Mas as coisas não param por aí. Depois que a minha mulher me largou, milhões de contas super estranhas começaram a chegar lá em casa! Meu cartão havia sido clonado. Enfurecido eu fui ver o gerente
- Caramba. Eu reclamei com o garçon e ele fez pouco caso. Depois de tal afronta, eu não tive outra opção.
- Que coisa. O gerente nem se importou!
- Eu matei ele.
- Eu matei ele. Você acha que eu deveria ficar aqui ou fugir?
- É. Olha você é a primeira pessoa pra quem eu conto isso. O que eu faço?
- Sim!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Rapazes

Ei rapaz
você que olha
aí de cima
porque tem um ponto

Ei rapaz
você que olha
atravessado
porque tem um braço

Ei rapaz
você que olha
pros pés
porque tem vazio

Ei rapaz
você que olha
e só olha
porque é sábio

O engraçado é
que vocês todos se masturbam

terça-feira, 17 de novembro de 2009

O Louco

Foi contorcendo o pescoço que localizei um ser bastante peculiar, andando uns vinte metros atrás de mim. Confesso que de início não prestei muita atenção nas características do tipo - é que pega realmente mal ficar torcendo o pescoço pra olhar alguém –, mas depois de uns cinco minutos de caminhada, comecei a ficar preocupado.
-Será que ele ta me seguindo? Perguntei-me. Nessa altura, comecei a fazer alguns testes. Pra começar acelerei o passo e, para minha surpresa, o estranho fez o mesmo. É, talvez ele esteja me seguindo. Contudo, isso só pode ser coincidência, nem tanto pela repetição do movimento, mas pelos simples fato de ninguém no mundo ter um motivo pra me seguir!
Mudei de calçada, e novamente por trás dos ombros, percebi que ele acompanhou o movimento. Desta vez tentei observa-lo melhor. Certamente era mais velho que eu, talvez uns 40 anos. Notei que usava um terno surrado, surrado a ponto que o tornava inadequado para qualquer situação que exigisse um traje desses. - Ele é da máfia, só pode ser! – Porém, me lembrei de novo, eu nem sou maneiro o suficiente para ser seguido.
E a caminhada/perseguição continuava, até que passamos por uma delegacia: - Tô seguro, qualquer coisa eu entro aí – Contudo, entrar por quê? Como explicar isso pra mim mesmo ou pra qualquer outra pessoa? “É, eu tenho uma queixa, tem um senhor de meia-idade andando na mesma rua que eu, e ele usa terno”. E ele continuava me seguindo, com olhos sem ressaca, com lábios sem carne, com corpo sem nada! Ele não era nem literário, só estranho!
Foi aí que veio a decisão, vou virar pra trás de vez, um surpreendente giro de 180o! Naah, surpreender um estranho não combina comigo, não sem alguém olhando. Porém, decidir de forma sutil me entregar. Devagar, fui diminuindo meu ritmo de caminhada, o encontro fatal ia acontecer! Faltando dez passos de distância ele também foi diminuindo, e pude ver seus olhos apertados de tensão. Cinco passos, nós dois cada vez mais próximos e lentos - quanto aos olhos, estavam quase fechados -. Porém, a dois passos de mim que ele me surpreendeu de verdade:
- Pare de me seguir! Gritou o estranho
- Eu?
- Sim, esqueces que a Terra é redonda?
Fui embora, com um sorrisinho cínico como se não soubesse que no fundo, ele quem estava certo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

As Multidões

Dar uma de observador: isso foi o que se passou na minha cabeça após ler “O Homem das Multidões”, de Edgar Allan Poe. O conto em questão fala sobre um homem que se atém a classificar os presentes numa multidão, encontrando diversos tipos recorrentes. Ao andar pela rua, não pude deixar de fazer o mesmo.
Comecei assim meu pretensioso experimento, o qual devo admitir, foi mais fácil do que parece. Quase todos os passantes se encaixavam em alguma categoria, executivos apressados, porteiros uniformizados e estudantes cansados. Segui então para uma segunda parte do estudo, as minorias, que para a minha surpresa também eram bem previsíveis. Estavam lá - homogêneos que nem garrafas de refrigerantes ou latas de atum - os judeus ortodoxos, os mendigos e as socialites, que se um dia foram bonitas hoje só ostentam unhas e cabelos bem tratados.
Nesse momento, o desprezo pelo mundo à minha volta me tomou de forma impressionante, - Uau, mas que mundo previsível, cadê o diverso, o nobre e o original? – e de repente nada mais valia a pena. Foi aí, que passando por um desses prédios de vidros espelhados, eu vi um espectro que calou toda a minha suposta altivez; um estudante.

Washington

centro do mundo
na cidade de George
só dois andares

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ama

Em quadros
ela sabe amar
em desenhos
ela sabe amar
em palavras
ela sabe amar
em sexo
ah, ela sabe amar
que pena
que não sabes amar

domingo, 8 de novembro de 2009

.

É engraçado como flores,
dessas bem bonitas,
cheirosas e altivas.
tornam-se pó.

É engraçado como flores,
belas e artistas,
bastam autistas,
pedantes e só.

Eu não o faço.
Não me convence o ruim,
conheço bem o jardim
e o quão bonito ele é.

Eu não o faço.
Serei sempre Estrangeiro,
pois não importa cheiro
pra quem aroma quer.

sábado, 7 de novembro de 2009

Sem Nome e Objetivo

É engraçado o que se sente quando não se espera nada. É uma ataraxia diferente, tensa, porém só boa (héé, soou paradoxal, né? Acho válido!) Quanta coisa se faz quando não se espera fazer? Um dia perdido na floresta, uma noite perdida num não, tudo é mais do que útil. Deus, me torne Oscar Wilde!!

Cranberry

Líquido rubro e forte
poucos gostam
Contudo, confesso
que privilégio
saber que o amargo
também é bom

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Nova York

tanto concreto
gente cheiro e cor
isso numa ilha

Cidades Haicai

Começa hoje uma coisinha nova aqui no blog. Começando daqui a pouco, postarei toda 4a um Haicai descritivo de uma cidade. Nossa viagem passará por: Rio de Janeiro/ São Paulo/ Salvador / Nova York/ Washington/ São Francisco/ Porto / Sevilha / Gibraltar / Paris / Buenos Aires / Cartagena / Cidade do México / Capetown

Com vocês podem ver, não existe nenhum padrão lógico de escolha, são só cidades que particularmente me interessaram. É, admito que a coisa toda é bem ego. Bom, se interessar, passem por aqui nas Quartas! Ah, e não tem ordem!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Decreto N. 0209

Onde há Nextel não há lirismo.