quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Ombro amigo

- Entrei no bar e pedi uma cerveja preta. Céus, mais que terrível é beber sozinho, isso sim deveria ser proibido por lei, aos impulsos idiotas, sanções morais nunca são suficientes.
- Cerveja preta?
- Éé, preta.
-Não entendo cerveja preta, lembra meu avô, ou aquele meu amigo que sempre inventa hábitos inusitados.
-Pois é, acho que era o meu caso nesse dia. Mas como eu ia dizendo, eu comecei a beber. O bar tinha uma TV, daquelas de tela plana – hoje nem tão – modernosas. Não sei se eram as conversas alheias, ou a péssima programação dominical...
- Então a tv era modernosa? Meu primo comprou uma dessas, sabe, é realmente incrível. Semana passada nós assistimos um daqueles documentários que mostram as profundezas do oceano, com todas aquelas criaturas luminosas em alta definição, foi ótimo.
- Saquei, mas como eu ia dizendo, o clima do bar foi me deixando muito puto! E logo de cara eu comecei a implicar com o garçom.
- Entendo. Você já tem uma tv dessas?
-Não. Pedi uma porção de bolinhos de bacalhau. Não sei porque, acho que é uma premissa sinestésica, mas dentro da minha cabeça frituras e melancolia tem tudo a ver!
- Pois você deveria comprar uma! A do meu primo é um máximo. Eu compraria se não estivesse desempregado. Ah, como está difícil a minha situação, né?. Ainda mais agora que a minha mulher me largou e eu não tenho mais acesso à grana que ela recebe por invalidez.
- É, isso é terrível. Enfim, o bolinho chegou, e você não acredita o que havia dentro: uma unha! Eu aceitaria qualquer parte do corpo com mais respeito que uma unha! Unha não é nem carne, não tem tecido nervoso, nem pele, não tem nada! É uma merda de um lixo animal, um errinho que ficou aí pela evolução.
- Que horror. Mas as coisas não param por aí. Depois que a minha mulher me largou, milhões de contas super estranhas começaram a chegar lá em casa! Meu cartão havia sido clonado. Enfurecido eu fui ver o gerente
- Caramba. Eu reclamei com o garçon e ele fez pouco caso. Depois de tal afronta, eu não tive outra opção.
- Que coisa. O gerente nem se importou!
- Eu matei ele.
- Eu matei ele. Você acha que eu deveria ficar aqui ou fugir?
- É. Olha você é a primeira pessoa pra quem eu conto isso. O que eu faço?
- Sim!

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