terça-feira, 23 de novembro de 2010

Alcachofra

O pior de tudo
foi quando me dei conta
que espontaneamente
comprei uma verdura

Comprei.
botei numa sacola
duas alcachofras
a seis reais cada

o troco nos bolsos,
pesando: a alcachofra
é uma flor! lembrei
aliviado

entretranto,
uma classificação biológica
em nada altera a
verduridade em questão

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

dois ilustres médicos discutem
faz mal para para o coração
aumenta o colesterol

dois médicos concordam
(esse ano):
é certo que faz mal,

proíbem o consumo,
mas e os produtores?
os jornais
imprimem a novidade
esse ano faz mal!

Os donos dos bares,
param de tingi-los
as madames
tiram da salada

as codornas
vão pro forno
esse ano faz mal!

E os médicos,
sozinhos
soltam risinhos e
furtivamente
destacam pétalas à sua maneira:
ovo sim ovo não

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Não escreva poemas de amor.
talvez,
o amor não mereça um
poema. um verso de amor
pode acabar morto,
como um guardanapo
marcado de batom

no lixo,
entre os negativos velhos
os controles sem pilha,
eis onde pode acabar
o meu poema de amor

Não escreva, talvez
poemas de amor
vai que depois ela não é poema
e você já escreveu
ou ainda
vai que o poema é bom


mas


como calar a poesia
vendo-a dormir, as palpebras
tremulantes. A respiração leve
que em seu calmo ir e vir, lembra
uma cadeira de balanço. uma
canção de ninar.

como calar a vontade
se, com os olhos bem atentos,
a companhia vira paisagem
e o calmo ir e vir -
do corpo ao ar -
é como a brisa de um parque

todos os latidos
cacarejos, assobios,
a sola do sapato dos
corredores,
a bicicleta com uma rodinha!


cotovias, Flamboyants, até
a tangerina do pic-nic.
O alfabeto da poesia
inclui todos, menos o o amor

então eis o que é
talvez não seja certo
talvez
não seja arte. mas
é certo que escrevo
não porque a amo
escrevo porque
o meu amor é um parque

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

faz-se inverno (frio) e seus
olhos continuam imensidão
quantos nós há nos seus olhos!
um país, uns vinte continentes

faz-se frio e surge tua cabana
aparece como copeques em rua cheia
como no mercado de feno,
tomamos doses de lua

faz-se, surge quando
a vida está na melhor parte
ao meio dia do destino em
pleno sol da meia noite e

faz-se branca, a noite
quando as pontes levantam,
e ficamos distantes
paralelos

e, como faz-se o cobre
bronze, aos olhos do poeta
o cavaleiro que guarda o rio
nos fazemos, (um ao outro)
espantados

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Lenço

o teu lenço. vejo
teu pecoço tampado e
desejo toca-lo não
para dizer
é meu

O teu lenco e céus
teu lenço tá
aí e ainda assim
só eu vou dizer?

o teu lenço e
o vento passa
tremulante
nos cabelos
fazendo num segundo
um vento e mil fitas

Tua lança,
escudo espada:
os olhos indo pra cima
o nariz
arrebitado e eu penso
se te puxo ou te amo

sábado, 19 de junho de 2010

Coisinha

na travessa o
manoel carlos
folheia clarice

podia ser haicai, mas era só mal du siècle.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Barco

Ao tato de um

tal em papo de dois

aprendi a dar-me inteiro

Sempre

salto ávido (convite)

com os olhos, salto

nunca profundo

Solto

se parnasiano

erro meus dias

em esmo

Agarro

ao toque do sino

ouço o rangido (atino)

é o cabo d’âncora

Sorte

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Condimentos da Bruxa Má

Uma pitada de sal nos olhos,
para chorarmos no futuro
todo aquele gás hilariante

Uma patada na arrogância
coice do asno
astuto e asmático

Uma picada no cupido
flechada insecta
soro antiofídico

E ao meu coração
algum decoro
de corpo cansado

quinta-feira, 13 de maio de 2010

jaz o cientista

em sua epígrafe

dois versinhos

sábado, 8 de maio de 2010

Se um dia você acordar na linha W...

Há em Astoria

um chinês que aos sábados,

quando vou à lavanderia

rí de tudo que faço


Há em Astoria

um mercado de esquina

com mais azeitonas e burcas

que etiquetas no trans-fat


Há em Astoria (bem cedinho)

um vento que de tão gelado

quando abro a porta sussurra:

Você precisa de luvas.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

I


Eu me via escravo daquela construção

que em presença da bela mudava de forma

Vidro barato, grades de proteção e os jardins

infestados de cuidado! (veneno de rato)


Tudo fascinante aos nossos olhos coniventes

Aos corpos quentes e juntos a verdade se mostrava:

Vitrais de Murano, muralhas chinesas e jardins mouriscos

com veias d’água em labirintos de frutas mil


II


E os aromas transcendiam a maresia

Agora eu lia Laranjeiras, Papoulas e Damas da Noite

Até o azul se mostrava diferente

ciano, índigo e céu


Descobri os segredos da alquimia!

Quando recebi tácito presente

o verdejante “u” me fez poesia

amordaçou-me às Tílias inexistentes


III


Fundei um clube, era sócio afundador

Uma sociedade de corações rotos

onde brindávamos com bebida barata

enquanto encenávamos falsos confortos


Não era o bar, o péssimo bar

não eram os copos de vidro, mal lavados

Eram apenas os nossos relógios

ao meio dia em fuso errado

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Soneto À Passarinha

Linda, daqueles

olhos incompreensíveis

é a passarinha

que surgiu na janela


Passando,

não tomando água

que passarinho

não bebe


Passarinha, vê se não passa!

Não caia em má figura de linguagem,

em rima pobre


Tadinha, tão envergonhada

Enquanto bebe a sua água

Tão passarinha

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ele era forte, diziam.

era sorte, eu dizia.

Fato ou furto,

funcionava.

Lia e jogava,

não gostava com razão.

- Imoral! - julgava-o.

Quando isso ainda existia

Até que de supetão,

talvez farto,

fatalmente roto;

caiu.

As pernas já não existiam.

Nem a beleza.

Até o amor subalterno

acabou.

Passou a correr

sem pernas, (isso é só passar)

passou a comprar

e pagar

Meu amigo,

logo você, assim mortal?

O negócio agora é

Paz?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Olimpo é sujo!

O Olimpo é sujo! Mas que mania de endeusar. Que absurdo a inexistência de deuses, também. A palavra é forte e assustadoramente comum, presente no vocabulário de todos, na cultura do todo e no julgamento de tudo.Dá medo.

A mim, dá mais graça que medo. Que engraçado essa pergunta ter uma resposta. Qualquer opção que se concretize torna a outra cômica. Imaginem, bilhões de fieis errados, as guerras santas, a inquisição, e o pior de tudo: a castidade. Além disso, todos os milhões julgados e jogados às feras, os escravinhos que carregaram toneladas de blocos de pedra para propiciar uma confortável vida post mortem aos faraós e até mesmo o parto esquisito da mulher do Tom Cruise. Foi pra nada!

O outro lado é bacana também. Grandíssimos intelectuais errados! E vai tudo que nos dá prazer por água baixo: Ter princípios vira compulsório. O outro passa a ser relevante - que preguiça, confesso. Além disso, e a burocracia de um mundo com Deus. Inúmeras almas se esbarrando, filas quilométricas e banheiros químicos.

É, aparentemente o sentido da vida é algo bem chato, não há segredo: somos todos condenados a um destino trágico e cômico, hahaha.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Um Café, A Conta e o Resultado do Futebol

Eis que enquanto esses malditos céus,

incertos e confusos choram,

surge, de forma quase espontânea:

o meu maldito sorriso.

O sorriso saudoso sem saudade

que ao invés de falta do passado,

veio com vontade de presente.

Presentes!

O sorriso de “Confieso que he vivido”

A alegria sísifa de descer o tobogã;

O frio na barriga, aquele muy conocido

câncer de órgão nenhum.

Me sinto pago, pagão.

Disposto a atravessar a floresta.

Mas se o trânsito vier e me acorrentar,

eu sempre posso ler no caminho

Ou até ouvir,

música

ou

ruido

domingo, 21 de março de 2010

É engraçado como muitas vezes, possuídos

pela humana necessidade de nos encaixarmos,

procuramos metáforas, símbolos ou signos.

Enquanto a maldita história, estava bem ali.

Primeiro veio Pessoa,

depois poços, flôs e pôs,

que levianos e desesperados

tentamos reduzir ao pó

Uma praia, com um começo e um final.

Enseada bruscamente dividida em duas

por qualquer plano urbanístico idiota

de algum homem sem amor

A nossa praia,

que começou naquelas pedras

e terminou naquelas pedras,

de ondas ferozes, quase agressivas:

Sentados zombando da força do mar

Um pontos, dois pontos.

mas o que nos interessava

eram as virgulas,,,

que não foram poucas.

domingo, 7 de março de 2010

Soneto de Yrupé

Flor que há muito já desabrochou
Formosa, cresce e presenteia o rio Paraná
De regalo o seu aroma, sempre o mesmo
Sempre terno.

Não chora,
Isto é, sabe não desperdiçar lágrimas
É que o sorriso vale muito mais que a tristeza
que vez por outra contamina as águas.

Felizes são os peixinhos,
e todas as criaturas que vivem em comunhão
com tão bela flor.

Para ela, só restam as risadas
daquela maldita câimbra
que um dia me assaltou.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Melancolia escondida
tédio escolhido
nenhuma novidade
Eis que surgem aquelas águas
de tom incrível.
Lavam o terceiro mês.
Privilégio carioca,
eu diria.
Que venham pingos, pingas e canivetes!
Percorram meu corpo levando algo dele pro mundo,
Caso não levem, que ao menos lavem
E entrem pelas canaletas das ruas
adentrem os esgotos dos ratos
os tubos que encobrem toda essa escória invisível
e façam o percurso necessário para
longe do meu olhar.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Sobre Vulcões, Flores e Incertezas

É difícil voltar.
Logo eu, que andava me achando corajoso,
capaz de cruzar continentes e subir vulcões.
Que me sentia capaz de tocar qualquer flor,
logo agora, fiquei sem palavras.

Que mentira.
Em alguns dias elas voltam, e junto com ele.
O sorrisinho sarcástico que zomba,
Que sabe que quase todo “You don’t know me”
Não passa de um humano “I don’t know”

Além do mais,
Não posso me esquecer do amor,
da cidade do amor
Que tem em seu relevo e em suas mulheres
coordenadas bastante semelhantes

E é assim que vos saúdo:
Rio, rio, riam!
Mas que saudades!

domingo, 31 de janeiro de 2010

30km

gelado,
no cinturao de fogo
Pacífico

os meus dedos
nao existem
hoje nao

Ainda falta
pra descida
acabar

Te vi gigante
pele de sofá
sonhei

terremotam-se
enquanto eu
f-rio

Mas em suma
tudo lindo
menos eu
O elefante
vira arvore grande
quando morre.