segunda-feira, 19 de abril de 2010

I


Eu me via escravo daquela construção

que em presença da bela mudava de forma

Vidro barato, grades de proteção e os jardins

infestados de cuidado! (veneno de rato)


Tudo fascinante aos nossos olhos coniventes

Aos corpos quentes e juntos a verdade se mostrava:

Vitrais de Murano, muralhas chinesas e jardins mouriscos

com veias d’água em labirintos de frutas mil


II


E os aromas transcendiam a maresia

Agora eu lia Laranjeiras, Papoulas e Damas da Noite

Até o azul se mostrava diferente

ciano, índigo e céu


Descobri os segredos da alquimia!

Quando recebi tácito presente

o verdejante “u” me fez poesia

amordaçou-me às Tílias inexistentes


III


Fundei um clube, era sócio afundador

Uma sociedade de corações rotos

onde brindávamos com bebida barata

enquanto encenávamos falsos confortos


Não era o bar, o péssimo bar

não eram os copos de vidro, mal lavados

Eram apenas os nossos relógios

ao meio dia em fuso errado

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Soneto À Passarinha

Linda, daqueles

olhos incompreensíveis

é a passarinha

que surgiu na janela


Passando,

não tomando água

que passarinho

não bebe


Passarinha, vê se não passa!

Não caia em má figura de linguagem,

em rima pobre


Tadinha, tão envergonhada

Enquanto bebe a sua água

Tão passarinha

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Ele era forte, diziam.

era sorte, eu dizia.

Fato ou furto,

funcionava.

Lia e jogava,

não gostava com razão.

- Imoral! - julgava-o.

Quando isso ainda existia

Até que de supetão,

talvez farto,

fatalmente roto;

caiu.

As pernas já não existiam.

Nem a beleza.

Até o amor subalterno

acabou.

Passou a correr

sem pernas, (isso é só passar)

passou a comprar

e pagar

Meu amigo,

logo você, assim mortal?

O negócio agora é

Paz?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O Olimpo é sujo!

O Olimpo é sujo! Mas que mania de endeusar. Que absurdo a inexistência de deuses, também. A palavra é forte e assustadoramente comum, presente no vocabulário de todos, na cultura do todo e no julgamento de tudo.Dá medo.

A mim, dá mais graça que medo. Que engraçado essa pergunta ter uma resposta. Qualquer opção que se concretize torna a outra cômica. Imaginem, bilhões de fieis errados, as guerras santas, a inquisição, e o pior de tudo: a castidade. Além disso, todos os milhões julgados e jogados às feras, os escravinhos que carregaram toneladas de blocos de pedra para propiciar uma confortável vida post mortem aos faraós e até mesmo o parto esquisito da mulher do Tom Cruise. Foi pra nada!

O outro lado é bacana também. Grandíssimos intelectuais errados! E vai tudo que nos dá prazer por água baixo: Ter princípios vira compulsório. O outro passa a ser relevante - que preguiça, confesso. Além disso, e a burocracia de um mundo com Deus. Inúmeras almas se esbarrando, filas quilométricas e banheiros químicos.

É, aparentemente o sentido da vida é algo bem chato, não há segredo: somos todos condenados a um destino trágico e cômico, hahaha.